“Eu sou tímida. Isso sempre ressoou na minha cabeça como um fardo a ser carregado e contra o qual deveria lutar, fugir, fingir. Há pouco tempo trouxe isso para a terapia. Minha psicóloga, com seu jeito acolhedor e sábio me disse: “aquilo que você aceita sobre si, não pode ser usado contra você”. E me perguntou: “o que a timidez te trouxe de benefícios?”. Eu nunca havia pensado sob essa perspectiva. A timidez diz respeito ao meu jeito introspectivo e observador. Sou uma excelente observadora. Sou sensível e consigo ver as situações por uma perspectiva poética. É a timidez que me leva ao mergulho na escrita e na leitura. Sou uma boa ouvinte e essa é uma ferramenta essencial da Psicologia, minha escolha profissional. Ser tímida é um jeito de ser e não um defeito. Quando abraço o que sou, ninguém pode usar isso contra mim.”
*trecho do meu livro (Sobre)viver a maternidade, que será lançado em breve.
Neste trecho, falo sobre a timidez como um rótulo que me atribuíram desde criança e que hoje vejo pessoas adultas aplicando à minha filha de 4 anos, quando ela se recusa a cumprimentá-los ou conversar.
Tendemos a rotular as pessoas, especialmente crianças e adolescentes, usando generalizações: ‘ele é agitado’, ‘ela é birrenta’, ‘que menino mimado e sem limites!’.
Essas generalizações oferecem alívio temporário para nossa frustração, mas limitam a criança ou adolescente àquele comportamento, desconsiderando quem o sujeito é.
Encontrar adjetivos que nos ajudem a nomear nossos desconfortos, às vezes, é mais fácil do que fazer perguntas curiosas sobre o que os comportamentos e manifestações emocionais querem nos comunicar sobre aquela pessoa e seu contexto: A timidez é uma constante em todas as situações e relações? A explosão emocional pode estar indicando uma necessidade de sono, alimentação ou excesso de estímulos? De que forma limites e contornos são oferecidos a essa criança? Além do que se vê, o que mais essa criança ou adolescente é?
Seguindo essa reflexão, destaco dois extremos ainda muito comuns em nossa abordagem com crianças: a tendência a patologizar o comportamento e os elogios.
Em 2022, o Ministério da Saúde1 relatou que entre 5% a 8% da população mundial é diagnosticada com TDAH. É um número alarmante 2. Sem entrar em detalhes sobre esses diagnósticos, acredito que família, profissionais da educação e da saúde devem olhar com cautela e complexidade para o que as crianças expressam, evitando reduzir questões multifatoriais a meras patologias e isentando pessoas adultas e instituições de suas responsabilidades no cuidado.
No outro extremo, quando elogiamos uma criança ou adolescente, tendemos a interpretar e generalizar seu comportamento, como se eles se resumissem à característica elogiada. Aqui também é necessário atenção para não limitar suas possibilidades de existência. Por exemplo, ao dizer ‘Nossa, que menina boazinha e comportada!’, que outras características estão sendo sugeridas ou ignoradas? Essa mesma menina, quando desejar expressar sua opinião ou discordar, se sentirá encorajada a sair do papel de ‘boazinha’?
Ao invés de um manual rígido, o convite aqui é para refletir: as características que reconheço da criança e adolescente legitimam o crescimento e o desenvolvimento ou restringem formas autênticas e múltiplas de expressão?
Se você sente que os rótulos estão dificultando seu relacionamento com sua criança ou adolescente, saiba que há apoio. A jornada do cuidado pode ser desafiadora, mas com orientação, você pode descobrir maneiras mais conscientes e leves de se relacionar com as crianças. Acesse o link do formulário abaixo, preencha e eu, ou uma das minhas parceiras, entrarei em contato para oferecer o suporte que você merece.