Publicado em 2011, O Cérebro da Criança chegou num momento em que a neurociência começava a se consolidar como uma resposta científica para questões de educação e psicologia infantil.
O livro reflete uma mudança significativa em direção à parentalidade consciente, valorizando o desenvolvimento emocional e o entendimento das necessidades cerebrais das crianças. Ele ajudou a popularizar a ideia de que entender o desenvolvimento cerebral é crucial para criar filhos de maneira mais respeitosa e conectada.
Escrito pelos neuropsiquiatras Daniel J. Siegel e Tina Payne Bryson, a obra é um guia prático que explora o desenvolvimento cerebral infantil, oferecendo insights valiosos sobre como podemos criar crianças mais felizes, resilientes e equilibradas emocionalmente.
O livro se destaca por trazer estratégias práticas e explicações simples, que ajudam a entender como o cérebro das crianças funciona em diferentes idades e momentos do desenvolvimento, usando metáforas acessíveis, como “o cérebro de baixo” (que lida com impulsos mais primitivos) e “o cérebro de cima” (que cuida do raciocínio lógico e do autocontrole). Essas metáforas permitem que mesmo quem não tenha formação em neurociência ou psicologia, possa visualizar o que está acontecendo na mente das crianças e, assim, aplicar as estratégias sugeridas no dia a dia.
Embora o livro tenha sido escrito pensando em mães e pais, defendo que sua leitura é mais indicada para educadoras parentais, professoras, psicólogas infantis, pediatras e assistentes sociais. Pois cabe às profissionais que amparam famílias percorrer esse caminho de estudo para poderem oferecer orientações com embasamento científico e não reprodução de ideias do senso comum.
Meu posicionamento decorre do fato de que não precisamos, nem devemos, intelectualizar o cuidado de crianças, mas sim apoiar práticas mais respeitosas e menos punitivas. Nesse sentido, ao transformar o cuidado num discurso em que; “cuidar não basta; é preciso que sejamos especialistas”, geramos insegurança e culpa desnecessárias em um grupo já bastante sobrecarregado (mães) e vulnerabilizamos quem tentávamos proteger: as crianças.
Outra crítica que tenho é que o livro simplifica excessivamente algumas questões, o que pode tornar suas sugestões difíceis de aplicar em contextos familiares mais complexos, onde traumas ou condições neuropsiquiátricas estão presentes.
Também me preocupa o reforço, ainda que indireto, do discurso maternalista. Nesse sentido, o Manifesto Antimaternalista de Vera Iaconelli é uma leitura adicional relevante, dado que traz uma visão mais crítica e profunda sobre o tema.
Outra obra que pode ampliar o olhar é O Cérebro do Adolescente, do próprio Siegel, onde ele aborda o conceito de cuidado aloparental, realizado por um pequeno grupo constante, e não apenas na tradicional díade mãe-bebê, reconhecendo a importância de uma comunidade para o pleno desenvolvimento das crianças. (leia sobre em https://olugardocuidado.com.br/cerebro-adolescente/)
Se você é educadora parental ou profissional que trabalha com famílias, este livro pode enriquecer seu repertório, oferecendo ferramentas para ajudar nos seus atendimentos. Porque ele se conecta com diversas disciplinas, como neurociência, psicologia do desenvolvimento, psiquiatria infantil e educação. Ele dialoga com conceitos de regulação emocional, desenvolvimento social e modelos de apego, todos fundamentais para entender o comportamento infantil.
Nesse sentido, O Cérebro da Criança não é apenas um manual, é um convite para um novo olhar onde ciência e afeto se encontram para apoiar o desenvolvimento saudável e feliz das nossas crianças.
Espero que você aproveite a leitura!