A calma que educa
Quando uma criança explode em choro, raiva ou agressividade, ela não está manipulando ou “fazendo birra”. Ela está pedindo ajuda da única forma que consegue. Seu sistema nervoso ainda imaturo não sabe lidar sozinho com emoções tão intensas. É nesse momento que entra um dos princípios mais fundamentais da parentalidade consciente: a co-regulação.
A co-regulação acontece quando um adulto, em vez de reagir com irritação ou imposição, oferece um ambiente seguro para que a criança possa se acalmar. A criança se regula através do outro, espelhando-se na segurança emocional do adulto que a acolhe. Isso acontece porque nosso cérebro possui neurônios-espelho, que fazem com que sintonizemos o estado emocional de quem está próximo. Se o adulto responde ao descontrole da criança com mais descontrole, o caos cresce. Mas, se diante da tempestade infantil, ele permanece firme, acolhedor e tranquilo, ensina um caminho diferente.
A calma de uma criança não vem quando exigimos que ela se acalme. Vem quando mostramos como fazer isso, primeiro dentro de nós. É por isso que acolher não é sinônimo de permissividade. Não significa “deixar fazer o que quiser”, mas sim compreender que, para ensinar algo, primeiro precisamos ser esse algo.
Mas até quando a criança precisa do adulto para se regular? A resposta é: para sempre, de alguma forma. Nos primeiros anos, o cérebro infantil ainda não desenvolveu plenamente funções como controle de impulsos e autorregulação emocional. Até os 3 a 5 anos, a necessidade de co-regulação é intensa, pois a criança ainda não consegue se acalmar sozinha de maneira eficaz. Entre os 7 e 9 anos, o cérebro amadurece um pouco mais, permitindo que a criança comece a internalizar as estratégias de regulação emocional que aprendeu com os adultos. Mas ainda assim, em momentos de frustração intensa ou medo, o suporte de um adulto é essencial.
Na adolescência, a capacidade de autorregulação evolui bastante, mas o suporte emocional continua sendo importante, especialmente porque o sistema límbico (ligado às emoções) amadurece antes do córtex pré-frontal (responsável pelo controle racional). Assim, os jovens muitas vezes ainda precisam da presença de um adulto para ajudá-los a processar emoções difíceis.
E, na verdade, essa necessidade não desaparece nunca. Somos seres sociais e, em momentos de dor, medo ou angústia, buscamos co-regulação em outras pessoas—sejam amigos, parceiros ou terapeutas. Quem nunca se acalmou só de estar ao lado de alguém que transmite segurança?
Isso vale para toda e qualquer relação humana. Quando alguém ao nosso lado permanece sereno em meio ao caos, sentimos que podemos respirar. A tranquilidade do outro nos ajuda a encontrar a nossa. E é exatamente isso que acontece com as crianças. Quando seu filho estiver no meio de um furacão emocional, seja o porto seguro.
Por Fernanda Suplicy
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